quarta-feira, 15 de julho de 2009

Diálogo de Sócrates, relatado por PLATÃO

Afirmando ironicamente que de nada sabia, Sócrates logo de início desarmava seu interlocutor e encorajava-o a expor seus pontos fracos. Através de perguntas, introduzia ora um, ora outro conceito, até que a pessoa via-se em tal conflito que já não podia prosseguir. Embaraçada, percebia que não sabia o que julgava saber e que apenas cultivara preconceitos. A partir daí, Sócrates podia guiá-la para o verdadeiro conhecimento, fazendo que extraísse de si mesma a resposta. Certa vez, um rico habitante de Larissa chamado Mênon, viajou até Atenas para aprender a retórica dos sofistas. Ao encontrar Sócrates na praça, descalço e de ar zombeteiro, não resistiu a provocá-lo: -- "Poderias me dizer, Sócrates, se a virtude pode ser ensinada? Ou se ela se adquire por exercício?" -- "Muito me honras, estrangeiro, se julgas que sei se a virtude pode ser ensinada ou se ela se adquire de outro modo. Na realidade, confesso-te, Mênon, que não o sei. Aliás, nem sei o que é a virtude. E não sabendo o que é uma coisa, como queres que saiba como ela é? A conversa prossegue, e a palavra passa rapidamente de um a outro interlocutor, até que Mênon, sente-se embaraçado e interrompe o diálogo. Irritado, tenta ridicularizar Sócrates e compara-o à tremelga marinha, peixe de abdômen volumoso, cabeça grande e lisa, capaz de desferir descargas elétricas, paralisando a quem o toca. Com isso, referia-se tanto ao físico de Sócrates, quanto ao seu modo de discutir. Passado o choque inicial, Mênon vem a receber ampla compensação. É no decorrer deste diálogo que Sócrates fórmula sua teoria da reminiscência. Segundo ela, nada se aprende e nada se ensina, pois a alma apenas se recorda, de tudo que viu e de tudo que conheceu em suas infinitas vivências. A verdadeira ciência e a verdadeira opinião são apenas uma vaga recordação das verdades eternas que um dia a alma contemplou (Platão, Mênon).

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